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sábado, 29 de abril de 2017

Achados arqueológicos: Adão e Eva

Show de esclarecimento arqueológico e bíblico.










sexta-feira, 28 de abril de 2017

O QUE HÁ DE ERRADO COM NÁDEGAS RELUZENTES?



           Uma cultura grosseira gera um povo vulgar, e o refinamento privado não consegue sobreviver por muito tempo aos excessos públicos. Há uma lei de Gresham que vale tanto para a cultura quanto para o dinheiro: o ruim expulsa o bom, a menos que o bom seja defendido. 
                    Em nenhum outro país o processo de vulgarização foi mais longe do que na Grã-Bretanha: nisso, ao menos, somos os primeiros no mundo. Uma nação até não muito tempo atrás notória pelas restrições de seus hábitos se tornou conhecida pela vulgaridade de seus apetites e por suas desavergonhadas e antissociais tentativas de satisfazê-los. O alcoolismo em massa passou a ser visto em abundância nos finais de semana, no centro de cada uma das cidades da Grã-Bretanha, de modo que viver nelas tem se tornado insuportável até mesmo às pessoas mais humildes. E o alcoolismo caminha de mãos dadas com os relacionamentos grosseiros, violentos e superficiais entre os sexos. A bastardia generalizada da Grã-Bretanha não é sinal de um aumento da autenticidade de nossas relações humanas, mas uma consequência natural do hedonismo sem limites, que conduz rapidamente ao caos e à miséria, especialmente entre os mais pobres. Livre-se das regras, e a discórdia violenta virá em seguida.
                  Curiosamente, a revolução nos hábitos britânicos não veio por meio de qualquer erupção vulcânica das bases; ao contrário, veio como extensão do pensamento da elite intelectual, que começou a desprezar a tradição. Ela ainda age dessa forma, embora hoje restem poucas coisas para se desprezar. 
                    Por exemplo, a lascívia escancarada da imprensa britânica ao tratar das vidas privadas das personalidades públicas - especialmente dos políticos - tem um objetivo ideológico: subverter o próprio conceito de virtude e negar a possibilidade de sua existência. Portanto, negar a necessidade de um comportamento contido. Segundo essa lógica maliciosa, se cada pessoa que visa defender a virtude for pega com as mãos sujas (quem de nós não as teria?), ou se fosse descoberto que ela se entregou em algum momento de sua vida a um vício que se opõe à virtude defendida por ela, então, a virtude, em si mesma, será exposta como nada mais do que pura hipocrisia; por consequência, poderemos nos comportar exatamente como bem entendermos. A atual falta de compreensão religiosa sobre a condição humana - que o homem é uma criatura caída para o qual a virtude é necessária, embora nunca completamente alcançável - representa uma perda, e não um ganho, para uma verdadeira sofisticação da vida. Seu substituto secular - a crença na perfeição da vida na terra por meio da extensão sem limites do leque dos prazeres - não é apenas imaturo por comparação, mas muito menos realista em sua compreensão da natureza humana.
                    É nas artes e nas páginas de nossos jornais que uma incessante exortação para o fim da polidez - o que caracteriza uma cruzada da elite e seu irreflexivo antinomianismo - torna-se absolutamente visível. Tomemos, por exemplo, o caderno de cultura de um exemplar recente do Observer, o jornal liberal de domingo mais prestigiado da Grã-bretanha. Os dois artigos de maior destaque e mais chamativos do caderno celebravam o cantor pop Marilyn Manson e o escritor Glen Duncan.
                    Do cantor pop, a crítica do Observer dizia: 
                              
                              A habilidade de Marilyn Manson para chocar balançou como um pêndulo durante uma ventania. [...] Ele parecia, num primeiro momento, realmente assustador, quando saiu arrebentando de [sua] nativa Flórida e declarou guerra a tudo o que a América média valoriza. Manson conta convincentes histórias sobre fazer felação com cadáveres desenterrados só para se divertir. [...] mas [...] a autobiografia de Manson revela um homem inteligente e engraçado - mesmo que gostasse de cobrir com carne crua suas fãs portadoras de deficiência auditiva enquanto transava com elas. Ele se tornou um artista, em vez de a encarnação do mal. Grupos religiosos ainda se mobilizam e protestam em suas turnês, principalmente aquelas que ecoam um teor nazista. Mas qualquer tolo perceberia que Manson estava chamando atenção para um ponto importante sobre as turnês de rock e o comportamento de massa, como também flertando com o estilo fascista.

                    A autora da resenha - a qual hesita fastidiosamente em usar a palavra "surda" para as portadoras de deficiência auditiva, mas não parece se importar muito se essas fãs estão sendo exploradas em pervertidas gratificações sexuais - faz um grande esforço para informar ao leitor que ela não é atrasada e ingênua como o norte-americano médio, a ponto de achar que todo o espetáculo de Manson é nojento; por exemplo, ao rebater a crítica que se faz quando se usa o nome de um assassino sádico e genocida para triviais propósitos publicitários.
Reagir de uma forma mais crítica significaria afastar-se de sua casta, ficar do lado dos desajeitados e solenes cristãos, em vez de alinhar-se com os adoradores seculares do demônio - embora a determinação de não se chocar com nada, não se opor a nada, seja em si, certamente, uma convenção. Parece que está além do alcance da imaginação e da sensiblidade desse tipo de crítica perceber que as pessoas que realmente lutaram contra o fascismo, que arriscaram suas vidas e que perderam compatriotas ao fazerem isso, ou que sofreram sob o jugo fascista não apenas ofensivo, mas um motivo real de desespero nos últimos anos de suas vidas. Fascismo não pode jamais estar na moda.
                    O "qualquer tolo" da última frase é uma forma sutil de esnobismo e de lisonja intelectual, visando sugar o leitor para o círculo encantado da sofisticada e desabusada elite intelectual - os entendidos e os cognoscenti, que superaram julgamentos e princípios morais (gnósticos), que não se enganam mais pelas meras aparências, e que não condenam segundo modelos ultrapassados de pensamento. São os que se fazem, portanto, imunes em relação a essas insignificantes e opressivas considerações de decência pública...Não faz muito tempo um jornal me pediu que eu fosse a um "espetáculo" a fim de escrever uma matéria sobre um grupo cuja principal atração era o fato de urinarem e vomitarem sobre o público. Eles também agrediam verbalmente as pessoas, chamando-as a todo momento de "filhas da puta". milhares de pessoas assistiram a esse "espetáculo" - na realidade, uma parede de reverberação acústica a despejar um ensurdecedor, eletrônico e discordante barulho pontuado por refrões obscenos - dentre as quais havia centenas de crianças de até seis anos. Para essas desafortunadas crianças, isso não representava uma nostalgie de la boue, mas significava uma total imersão na própria lama, a lama na qual viviam e respiravam, e de onde forjavam sua existência cultural; a alma da qual é altamente improvável que consigam sair. Qualquer tolo perceberia que aquilo não era um espetáculo adequado para as crianças, mas muitos tolos - os pais delas - não perceberam.
                    A entrevista que o Observer fez com o autor, Glen Duncan, foi intitulada "Escuras e Satânicas Emoções", e a entrevistadora se viu "agradavelmente chocada" com o sadomasoquismo do trabalho de Duncan - o que implica dizer que qualquer outro tipo de choque que não fosse prazeroso estaria abaixo da dignidade de alguém da sua casta. "[Ele] ousou penetrar ainda mais fundo na floresta obscura da violência sexual e da crueldade", indo mais longe que outra grande autora da literatura sadomasoquista, Mary Gaitskill - de fato um elogio, uma vez que Gaitskill tem sido aclamada pela crítica por seu "desavergonhado flerte com os tabus" (Oh, quão sedutores eles são, nossos literari, fascinados pelos tabus como moscas pelo esterco), "sua explícita clareza na exposição dos mais sórdidos detalhes". Para essa gente, não existe nada mais chique ao expor a liberdade, a maturidade e o autoconhecimento humanos do que uma pitada de detalhes sórdidos, embora, é claro, talvez você nunca consiga ser suficientemente desavergonhado nem satisfatoriamente sórdido.
                    É preciso esclarecer que a descrição gráfica que o Sr. Duncan faz das práticas sadomasoquistas não pode ser vista como lasciva ou mesmo sensacionalista; que os céus nos protejam de pensamentos "grosseiramente reducionistas": "embora" - falando sinceramente, já que pessoas maduras podem lidar com qualquer verdade - "trata-se de um potencial best-seller para os editores" (como aquelas pessoas que, por exemplo, não consideram o fascismo um tema adequado para uma abordagem meramente comercial. Como o autor diz à entrevistadora, no sentido de consolidar, acima de qualquer suspeita, sua reputação como pensador sério: "Situações de merda acontecem, e eu quis que o narrador soubesse como lidar com situações como essas". Portanto, que fique claro, as cenas sexuais não são gratuitas, muito menos seria o caso de serem meras campanhas publicitárias - e, certamente, tampouco são o resultado da escolha humana (situações de merda não se escolhem; apenas acontecem; é inevitável) - elas levantam, no entanto, importantes questões metafísicas a respeito dos limites do permissível.
                    É possível definir com precisão quando teve início esse espiral decadente da cultura? Quando perdemos de forma absoluta o tato, o refinamento e a compreensão sobre algumas coisas que não podem ser ditas ou diretamente representadas? Quando foi que paramos de saber que, ao dignificar certas formas de comportamento, maneiras e modos de vida por meio de representações artísticas isso implicaria, ao menos implicitamente, glorificá-los e promovê-los? Como diz Adam Smith, há uma porção de ruína em cada nação, e essa verdade se aplica tanto à cultura de uma nação quanto à sua economia. O trabalho de destruição cultural, embora frequentemente mais rápido, fácil e mais autoconsciente do que o trabalho de construção, não é o trabalho de um momento. Roma não foi destruída em um dia. 
                    Em 1914, por exemplo, Bernard Shaw causou grande sensação ao atribuir à personagem Eliza Doolittle a frase "Not bloody likely!" que seria encenada nos palcos de Londres. É claro que a sensação criada na época por essa inócua e mesmo inocente exclamação dependia inteiramente para o seu efeito, da convenção que ela ridicularizava. Mas aquelas pessoas que ficaram escandalizadas com a frase (as pessoas que em geral são consideradas caretas) compreenderam instintivamente que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, e que qualquer outro autor que procurasse criar outra grande sensação no futuro teria que ir muito além do "not bloody likely!". Uma lógica de quebra  de convenção fora estabelecida, de modo que dentro de algumas décadas ficou difícil produzir qualquer nova sensação, a não ser usando-se meios progressivamente mais extremos. 
                    Continua...
Fonte: Nossa Cultura ou o que restou dela, Theodore Dalrymple - É Realizações 

sábado, 15 de abril de 2017

A parábola dos talentos: a Bíblia, os empreendedores e a moralidade do lucro



















As parábolas de Jesus nos ensinam verdades eternas, mas também oferecem lições práticas inesperadas para as questões mundanas.
No Evangelho de Mateus (Mt 25:14-30), encontramos a parábola dos talentos de Jesus. Como todas as parábolas bíblicas, elas têm muitos níveis de significado. Sua essência se relaciona a como utilizamos o dom da graça de Deus. Com relação ao mundo material, trata-se de uma história sobre capital, investimento, empreendedorismo, e o uso adequado de recursos econômicos escassos. É uma refutação direta àqueles que veem uma contradição entre o sucesso dos negócios e a vivência da vida cristã. 
Um homem rico, prestes a iniciar uma longa viagem, chamou os seus três servos e lhes disse que eles seriam os guardiões de seus bens enquanto estivesse ausente. Após o mestre analisar as habilidades naturais de cada um, ele deu 5 talentos a um servo, 2 a outro, e 1 ao terceiro. Em seguida, partiu para sua viagem.
Os servos não perderam tempo e imediatamente adentraram o mundo do empreendimento e dos investimentos.  Aquele que recebera cinco talentos empreendeu e ganhou outros cinco.  Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que havia recebido apenas um fez uma cova no chão e escondeu ali a propriedade do seu mestre.
Depois de muito tempo, o mestre retornou e foi acertar as contas com seus servos. O servo que havia recebido 5 talentos se apresentou. "Meu senhor", ele disse, "o senhor me confiou 5 talentos; veja, aqui estão mais cinco que eu consegui!".
"Muito bem, servo bom e fiel!" o mestre respondeu. "Já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do teu senhor!"
Em seguida, o servo que havia recebido 2 talentos se aproximou do mestre. "Meu senhor", disse, "o senhor me confiou 2 talentos; veja, obtive mais dois!" O mestre disse: "Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito, entra no gozo do teu senhor". 
Finalmente, aquele que havia recebido 1 talento se aproximou de seu mestre. "Meu senhor", disse, "eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste e recolhes onde não joeiraste; e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu!".
A resposta do mestre foi rápida e severa: "Servo mau e preguiçoso! Se sabias que ceifo onde não semeei e que recolho onde não joeirei, devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, ao meu retorno, teria recebido o que é meu com juros".
O mestre ordenou que o talento fosse tomado do servo preguiçoso e dado àquele que tinha dez talentos: "Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes!"
Essa não é a história que frequentemente ouvimos nos púlpitos e sermões. Nossos tempos ainda exaltam uma ética socialista na qual o lucro é suspeito, e o empreendedorismo é visto com suspeita e desagrado. Porém, a história apresenta um significado ético facilmente perceptível, e apresenta lições profundas que ajudam a compreender qual é a responsabilidade humana na vida econômica.

Uma análise mais atenta
Nessa parábola, a palavra "talento" possui dois significados. É uma unidade monetária: era a mais utilizada da época. O estudioso bíblico John R. Donovan relata que um único talento era equivalente ao salário de 15 anos de um trabalhador comum. Portanto, sabemos que a quantia dada a cada servo era considerável.



Se interpretarmos de uma forma mais ampla, os talentos se referem a todos os dons que Deus nos deu. Essa definição abarca todos os dons — naturais, espirituais e materiais. Inclui, também, nossas habilidades e recursos naturais — saúde e educação —, bem como nossas posses, dinheiro e oportunidades.
Uma das lições mais simples dessa parábola é que não é imoral lucrar por meio do uso de nossos recursos, inteligência e trabalho. A alternativa ao lucro é o prejuízo; e a perda de riqueza, especialmente por falta de iniciativa, certamente não constitui uma boa e sensata administração.
A parábola existente no Evangelho de São Mateus pressupõe uma compreensão básica da correta administração do dinheiro. De acordo com a lei rabínica, o ato de enterrar o dinheiro era considerado a forma mais segura contra o roubo. Se a uma pessoa fosse confiada uma quantia em dinheiro e ela o enterrasse tão logo estivesse em seu poder, ela estaria livre da culpa se algo acontecesse com ele. O oposto era verdade se o dinheiro fosse enrolado em um pano.  Nesse caso, a pessoa era responsável por cobrir qualquer perda (prejuízo) incorrida devido à má administração do depósito que lhe foi confiado.  
Ainda nessa história, o mestre inverte o entendimento da lei rabínica. Ele considerou enterrar o talento — ficando elas por elas — como um prejuízo, pois ele pensava que o capital deveria receber uma taxa de retorno razoável. De acordo com esse entendimento, tempo é dinheiro (ou juros).
A parábola também contém uma lição crítica sobre como devemos utilizar as habilidades e recursos dados por Deus. No livro de Gênesis, Deus deu a Adão a Terra à qual ele deveria misturar seu trabalho para seu próprio uso. Na parábola, de forma similar, o mestre esperava que seus servos buscassem ganhos materiais. Em vez de preservar passivamente o que lhes tinha sido dado, o mestre esperava que investissem o dinheiro. O mestre ficou furioso diante da timidez do servo que tinha recebido um talento. Deus nos ordena a utilizar nossos talentos para fins produtivos. A parábola enfatiza a necessidade do trabalho e da criatividade, e condena a preguiça.

A busca por segurança
Ao longo da história, as pessoas tentaram construir instituições que assegurassem uma segurança perfeita, como o servo fracassado tentou. Tais esforços variam dos estados de bem-estar greco-romanos, passando pelo totalitarismo soviético em grande escala, até as comunidades luditas da década de 1960.
De tempos em tempos, esses esforços foram adotados como soluções cristãs para inseguranças futuras. Ainda assim, na Parábola dos Talentos, a coragem frente a um futuro incerto é recompensada no primeiro servo, que recebeu mais. Ele havia empreendido os 5 talentos, e ao fazê-lo, obteve mais 5. Teria sido mais seguro para o servo investir o dinheiro no banco para obter juros. Pela fé que demonstrou, foi-lhe permitido manter os 5 iniciais mais os 5 que havia recebido, compartilhando da alegria do mestre. 
Isso implica uma obrigação moral de confrontar a incerteza de maneira empreendedora. E ninguém o faz melhor que o empreendedor. Muito antes de saber se haverá retorno aos seus investimentos ou ideias, ele arrisca seu tempo e sua propriedade. Ele tem de pagar os salários de seus empregados muito antes de saber se o seu empreendimento terá algum retorno.  Ele incorre em gastos muito antes de saber se previu os eventos futuros de forma acurada. Ele vê o futuro com esperança, coragem e um senso de oportunidade. Ao criar novos negócios, ele oferece alternativas para os trabalhadores, que agora podem optar por receber um salário e desenvolver suas habilidades.
Por que, então, os empreendedores são frequentemente punidos como maus servos de Deus? Muitos líderes religiosos falam e agem como se o uso dos talentos e recursos naturais dos empresários em busca do lucro fosse imoral, uma noção que deveria ser descartada à luz da Parábola dos Talentos. O servo preguiçoso poderia ter evitado seu destino sombrio ao ser mais empreendedor. Se houvesse feito um esforço para empreender o dinheiro do seu mestre e retornado com prejuízos, ele não teria sido tratado tão mal, pois ao menos teria trabalhado em nome do seu mestre.

Empreendedorismo e ganância
A religião deve reconhecer o empreendedorismo pelo que ele é — uma vocação. A capacidade de sucesso nos negócios, na bolsa de valores ou em um banco de investimentos é um talento. Como outros dons, não deveriam ser desperdiçados, mas usados em sua plenitude para a glória de Deus. Críticos ligam o capitalismo à ganância, mas a natureza fundamental da vocação empresarial é se concentrar nas necessidades dos consumidores e se esforçar para satisfazê-las. Para ter sucesso, o empreendedor tem de servir aos outros.
A ganância se torna um risco espiritual — que ameaça a todos nós, independentemente de nossa riqueza ou vocação — quando passa a haver um desejo excessivo ou insaciável por ganhos materiais, independentemente de nossa condição financeira. O desejo se torna excessivo quando, nas profundezas do seu ser, ele supera as preocupações morais e espirituais. Mas a parábola deixa claro que a riqueza por si só não é injusta — pois o primeiro servo recebeu mais do que o segundo e o terceiro. E quando o lucro é o objetivo a ser alcançado pelo uso do talento empresarial, isso não configura ganância. É apenas o uso apropriado do dom.
Além de condenar o lucro, os líderes religiosos frequentemente favorecem diversas variedades de igualdade social e redistribuição de renda. Sistema de saúde universal, maiores gastos com políticas assistencialistas, e tributação pesada sobre os ricos são todos promovidos em nome da ética cristã. O objetivo supremo de tais políticas é a igualdade, como se as desigualdades inatas que existem entre as pessoas fossem, de alguma forma, inerentemente injustas.
E não é assim que Jesus se posiciona na Parábola dos Talentos. O mestre confiou talentos a cada um de seus servos de acordo com suas respectivas habilidades e capacidades. Um recebeu 5, enquanto outro recebeu somente 1.  Aquele que recebeu menos não recebe compaixão do mestre pela sua falta de recursos em comparação ao que seus outros colegas receberam. 
Podemos inferir dessa parábola que a igualdade de renda ou a realocação de recursos não é uma questão moral fundamental. Os talentos e matérias-primas que cada um de nós tem não são inerentemente injustos; sempre existirão desigualdades desenfreadas entre as pessoas. Um sistema moral é aquele que reconhece tal fato e permite que cada pessoa utilize seus talentos em sua plenitude. Todos nós temos a responsabilidade de empregar as capacidades e habilidades das quais fomos dotados.
Também podemos aplicar a lição dessa parábola às nossas políticas sociais. No sistema vigente, o salário do trabalhador é tributado para pagar os benefícios daqueles não trabalham. Frequentemente ouvimos que "não existem empregos" para a grande maioria dos pobres. No entanto, sempre existe trabalho a ser feito.  A necessidade de trabalho é, por definição, infinita. Um homem com duas mãos saudáveis pode encontrar trabalho que pague $1 por hora. Ele decide trabalhar ou não, e o governo decide se ele pode ou não aceitar tal valor. Nosso sistema de bem-estar desencoraja o trabalho. Ele cria um incentivo perverso para se recorrer ao assistencialismo ao menos que exista um trabalho que pagará pelo menos o mesmo que o seguro-desemprego.
Deus ordena que todas as pessoas utilizem seus talentos; todavia, em nome da caridade, nosso sistema assistencialista encoraja as pessoas a deixarem que suas habilidades naturais atrofiem, ou que nem mesmo as venham a descobrir. 
Dessa maneira, estimula-se o pecado. A Parábola dos Talentos implica que a inatividade — ou o desperdício de talento empreendedorial — incita a ira de Deus. Afinal, o servente mais baixo não havia desperdiçado o talento; ele simplesmente o havia enterrado: algo que era permissível (aceitável) pela lei rabínica. A rapidez da reação do mestre surpreende. Ele o chama de "mau e preguiçoso" e o expulsa para sempre de sua convivência.
Aparentemente, não é somente a preguiça do servo que motiva tanta ira. Ele não mostrou nenhum arrependimento, e ainda culpou seu mestre pela sua timidez (incompetência). Sua desculpa para não investir o dinheiro é que ele considerava o seu mestre duro e exigente, embora a ele houvessem sido confiados recursos generosos.  Por medo do fracasso, ele se recusou até mesmo a tentar ter sucesso.
Essa parábola também nos ensina algo sobre macroeconomia. O mestre seguiu viagem deixando o total de 8 talentos; ao retornar, os 8 haviam se transformado em 15. A parábola não é a história de um jogo de soma zero. O ganho de uma pessoa não ocorre à custa de outrem. O empreendimento exitoso do primeiro serve não prejudica as possibilidades do terceiro servo. O mesmo se aplica à economia atual. Ao contrário do que é normalmente pregado do púlpito, o sucesso dos ricos não vêm à custa dos pobres.
Se por se tornar rico o servo mais bem sucedido tivesse prejudicado a outrem, o mestre não o teria elogiado. O uso sábio dos recursos em investimentos ou em poupança a juros não somente é correto do ponto de vista individual, como também ajuda as outras pessoas. Como John Kennedy disse certa vez, uma onda que sobe levanta todos os barcos. Da mesma forma, a riqueza do mundo desenvolvido não ocorre nas costas das nações em desenvolvimento. A Parábola dos Talentos implica uma sociedade livre e aberta.
Cristãos de esquerda normalmente recorrem às palavras de Jesus: "Como é difícil entrar no Reino de Deus. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". Seus discípulos foram tomados de surpresa, e se perguntaram: quem poderia ser salvo, então? Jesus acalmou seus medos: "para um homem é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis".
Isso não significa que nosso sucesso material nos afastará do paraíso; implica, isso sim, a necessidade de levarmos uma vida moralmente, a qual deve estar acima de qualquer preocupação com bens materiais. Nossa preocupação para com Deus deve ser a mesma que os servos tiveram com relação aos interesses do seu mestre enquanto buscavam o lucro. Permanece verdade que, não obstante todas as nossas posses e feitos terrenos, dependemos completamente de Deus para alcançarmos a salvação.
No entanto, para a condução da economia, dependemos fortemente do empreendedorismo, do investimento, da tomada de risco e da expansão da riqueza e da prosperidade.  Deveríamos ser mais críticos quanto à maneira como nossa cultura trata o empreendedorismo. As revistas de negócios estão repletas de histórias de sucesso. O herói é frequentemente o empreendedor corajoso, visionário e alegre, que se assemelha ao servo capaz que recebeu 5 talentos. Contudo, ao mesmo tempo, a fé religiosa popular continua a louvar e promover o comportamento endêmico do servo preguiçoso que foi expulso do convívio do mestre.

O cristianismo é frequentemente culpado pelo fracasso dos projetos socialistas ao redor do mundo. E, em muitos casos, cristãos desinformados participaram da construção desses tipos de projetos. A lição da Parábola dos Talentos precisa ser mais bem entendida. O sonho socialista é imoral. Ele simplesmente institucionaliza o comportamento condenável do servo preguiçoso. Onde Deus recomenda a ação criativa, o socialismo encoraja a preguiça. Onde Ele demanda fé e esperança no futuro, o socialismo promete uma falsa forma de segurança. Ao passo que a Parábola dos Talentos sugere a superioridade moral da livre iniciativa, do investimento e do lucro, o socialismo a nega.
Todas as pessoas de fé deveriam trabalhar tenazmente para acabar com a divergência entre religião e economia. Essa parábola de Jesus é um bom ponto para se começar a incorporar a moralidade do livre mercado e da livre iniciativa à ética cristã.

FONTE: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2046