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sábado, 13 de julho de 2019
segunda-feira, 8 de julho de 2019
Não, não há pessoas demais neste planeta
Bryan Fischer
É comum ouvir os ambientalistas equivocados reclamarem e se queixarem do número excessivo de pessoas e que a Terra está ficando sem recursos para sustentá-los. Não deixe que eles mintam para você. Eles estão totalmente errados.
Na verdade, o problema é que há poucas pessoas. Quanto mais seres humanos há, mais capital humano há para inovar, criar e produzir. Uma maneira simples de medir a produtividade e a abundância é o preço das mercadorias básicas. Com base na lei fundamental de oferta e demanda, conforme a oferta aumenta, a demanda e os preços caem. Quando a oferta cai, os preços sobem à medida que a caça aos dólares fazem reduzir o abastecimento.
Assim, rastrear o preço das mercadorias é uma maneira infalível de medir a abundância. Se a Terra estiver passando por uma abundância de oferta, os preços das mercadorias cairão. Mas se, como os ambientalistas querem que acreditemos, estamos ficando sem os produtos essenciais da vida, os preços vão subir como um foguete lançado à Lua.
Pesquisa do Instituto Cato revela que quanto mais a população cresce, mais os preços das mercadorias caem. Aliás, os preços das mercadorias caíram 65% entre 1980 e 2017. Os seres humanos estão, na verdade, experimentando não a escassez, mas uma superabundância dos produtos básicos da vida à medida que a população cresce.
Os recursos do planeta se tornaram 380% mais abundantes — não menos — nos últimos 40 anos. E Cato prevê que os preços cairão mais 37% nas próximas décadas.
Paul Ehrlich, o autor do livro “The Population Bomb” — “Bomba Populacional” — (ele era professor na Universidade de Stanford quando eu estava fazendo meu trabalho de graduação lá) se alimentou do pessimismo natural do homem para persuadir as pessoas de que estávamos condenados por uma crescente população. O economista Julian Simon argumentou exatamente o oposto. Sua visão era de que, à medida que a população crescia, mais e mais pessoas chegavam ao mundo com a engenhosidade de resolver problemas de produção e disponibilizar mais recursos para todos, a um preço mais barato.
Eles fizeram uma famosa aposta em 1980 sobre o preço de uma “cesta” de matérias-primas que Ehrlich estava convencido de que se tornaria mais escassa e mais cara na próxima década. (Ehrlich tinha a vantagem de jogar no próprio campo nesse assunto — ele escolheu a dedo todas as mercadorias da cesta.) Para ganhar a aposta, os preços tinham de subir para que Ehrlich vencesse e abaixar para que Simon ganhasse.
Apesar do crescimento populacional de 873 milhões de pessoas durante essa década, Ehrlich perdeu a aposta. Todas as cinco mercadorias que ele selecionou abaixaram de preço, em uma média de 57,6%. Ehrlich teve de enviar um cheque para Simon no valor de US$ 576,07.
Dois pesquisadores concluíram que Simon teria ganho a mesma aposta “em todos os anos de 1980 a 2015.”
Em 2010, um incidente internacional foi desencadeado quando a Guarda Costeira do Japão deteve o capitão de um navio chinês após uma colisão. A China retaliou suspendendo todas as remessas de minerais de terras raras para o Japão. A China na época representava 97% de todos os minerais de terras raras, que são usadas em sistemas de defesa, energia eólica e produção de carros elétricos.
Como o modelo de Simon previu, as pessoas empreendedoras encontraram um jeito. Alguns usaram brechas legais para encontrar maneiras de fabricar seus produtos com menor quantidade de elementos, e descobriram que não precisavam de terras raras — eles só as usavam porque eram relativamente baratas.
Empresas de todo o mundo lançaram novos projetos de mineração, expandiram as capacidades das fábricas existentes e reciclaram terras raras. O preço logo caiu depois de um pico inicial.
Então, em 2018, cientistas japoneses descobriram uma amostra de 16 milhões de toneladas de minerais na lama do mar profundo a 1,271 km da costa japonesa. O pequeno pedaço de terra parece conter uma carga de elementos de terras raras, “inclusive o valor de 780 anos de ítrio, 620 anos de európio, 420 anos de térbio e 730 anos de disprósio.” Os cientistas que descobriram esse depósito concluíram que “tem o potencial de fornecer esses materiais em uma base semi-infinita para o mundo.”
Os escritores do artigo do Instituto Cato, Gale L. Pooley e Marian L. Tupy, selecionaram uma cesta de 50 mercadorias, inclusive alimentos, energia, matérias-primas e metais preciosos. Eles descobriram que, entre 1980 e 2017, o preço dessas mercadorias, ajustado pela inflação, caiu 36,3%, enquanto a renda horária real global cresceu 80,1%. As mercadorias que levavam 60 minutos de trabalho para comprar em 1980 levaram apenas 21 minutos de trabalho para comprar em 2017.
Enquanto a maioria das pessoas presume que o crescimento populacional leva a um esgotamento de recursos, a verdade é o contrário. Por causa das contribuições feitas por todos os seres humanos nascidos no planeta, as mercadorias hoje são mais abundantes devido ao crescimento populacional, e não apesar disso. Aliás, “Entre 1980 e 2017, a disponibilidade de recursos aumentou a uma taxa de crescimento anual combinada de 4,32%. Isso significa que a Terra era 379,6% mais abundante em 2017 do que em 1980.”
Os autores concluem desta maneira:
“O instrumento (o piano) tem apenas 88 notas, mas essas notas podem ser tocadas de uma maneira quase infinita. O mesmo se aplica ao nosso planeta. Os átomos da Terra podem ser fixos, mas as combinações possíveis desses átomos são infinitas. O que importa, então, não são os limites físicos de nosso planeta, mas a liberdade humana de experimentar e reimaginar o uso dos recursos que temos.”
Nós temos muitas pessoas no planeta Terra? Não. Na verdade, não temos o suficiente. É hora de ser fecundo, se multiplicar e encher a terra. Ocupe-se com essa responsabilidade.
FONTE: JÚLIO SEVERO
quarta-feira, 3 de julho de 2019
Por que o nazismo era socialismo e por que o
socialismo é totalitário
Por George Reisman*
Minha intenção é expor dois pontos principais: (1)
Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista, e não capitalista. E
(2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema econômico
baseado na propriedade estatal dos meios de produção, necessariamente requer
uma ditadura totalitária.
A caracterização da Alemanha Nazista como um estado
socialista foi uma das grandes contribuições de Ludwig von Mises.
Quando nos recordamos de que a palavra “Nazi” era
uma abreviatura de “der Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei”
— Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães—, a
caracterização de Mises pode não parecer tão notável. O que se poderia esperar
do sistema econômico de um país comandado por um partido com “socialista” no
nome além de ser socialista?
Não obstante, além de Mises e seus leitores,
praticamente ninguém pensa na Alemanha Nazista como um estado socialista. É
muito mais comum se acreditar que ela representou uma forma de capitalismo,
aquilo que comunistas e marxistas em geral têm alegado.
A base do argumento de que a Alemanha Nazista era
capitalista é o fato de que a maioria das indústrias foi aparentemente deixada
em mãos privadas.
O que Mises identificou foi que a propriedade
privada dos meios de produção existia apenas nominalmente sob o regime Nazista,
e que o verdadeiro conteúdo da propriedade dos meios de produção residia no
governo alemão. Pois era o governo alemão e não o proprietário privado nominal
quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais
métodos, e a quem seria distribuído, bem como quais preços seriam cobrados e
quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria
permitido ao proprietário privado nominal receber.
A posição do que se alega terem sido proprietários
privados era reduzida essencialmente à função de pensionistas do governo, como
Mises demonstrou.
A propriedade governamental “de fato” dos meios de
produção, como Mises definiu, era uma consequência lógica de princípios
coletivistas fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem
antes do bem privado e de que o indivíduo existe como meio para os fins do
estado. Se o indivíduo é um meio para os fins do estado, então, é claro, também
o é sua propriedade. Do mesmo modo em que ele pertence ao estado, sua
propriedade também pertence.
Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo
“de fato” na Alemanha Nazista foi a introdução do controle de preços e salários
em 1936. Tais controles foram impostos como resposta ao aumento na quantidade
de dinheiro na economia praticada pelo regime nazista desde a época da sua
chegada ao poder, no início de 1933. O governo nazista aumentou a quantidade de
dinheiro no mercado como meio de financiar o vasto aumento nos gastos
governamentais devido a seus programas de infraestrutura, subsídios e
rearmamento. O controle de preços e salários foi imposto em resposta ao aumento
de preços resultante desta inflação.
O efeito causado pela combinação entre inflação e
controle de preços foi a escassez, ou seja, a situação na qual a quantidade de
bens que as pessoas tentam comprar excede a quantidade disponível para a venda.
As escassezes, por sua vez, resultam em caos
econômico. Não se trata apenas da situação em que consumidores que chegam mais
cedo estão em posição de adquirir todo o estoque de bens, deixando o consumidor
que chega mais tarde sem nada — uma situação a que os governos tipicamente
respondem impondo racionamentos. Escassezes resultam em caos por todo o sistema
econômico. Elas tornam aleatória a distribuição de suprimentos entre as regiões
geográficas, a alocação de um fator de produção dentre seus diferentes
produtos, a alocação de trabalho e capital dentre os diferentes ramos do
sistema econômico.
Face à combinação de controle de preços e
escassezes, o efeito da diminuição na oferta de um item não é, como seria em um
mercado livre, o aumento do preço e da lucratividade, operando o fim da
diminuição da oferta, ou a reversão da diminuição se esta tiver ido longe
demais. O controle de preços proíbe o aumento do preço e da lucratividade. Ao
mesmo tempo, as escassezes causadas pelo controle de preços impedem que
aumentos na oferta reduzam o preço e a lucratividade de um bem. Quando há uma
escassez, o efeito de um aumento na oferta é apenas a redução da severidade
desta escassez. Apenas quando a escassez é totalmente eliminada é que um
aumento na oferta necessita de uma diminuição no preço, trazendo consigo uma
diminuição na lucratividade.
Como resultado, a combinação de controle de preços
e escassezes torna possíveis movimentos aleatórios de oferta sem qualquer
efeito no preço ou na lucratividade. Nesta situação, a produção de bens dos
mais triviais e desimportantes, como bichinhos de pelúcia, pode ser expandida à
custa da produção dos bens importantes e necessários, como medicamentos, sem
efeito sobre o preço ou lucratividade de nenhum dos bens. O controle de preços
impediria que a produção de remédios se tornasse mais lucrativa, conforme a sua
oferta fosse diminuindo, enquanto a escassez mesmo de bichinhos de pelúcia
impediria que sua produção se tornasse menos lucrativa conforme sua oferta
fosse aumentando.
Como Mises demonstrou, para lidar com os
efeitos indesejados decorrentes do controle de preços, o governo deve abolir o
controle de preços ou ampliar tais medidas, precisamente, o controle sobre o
que é produzido, em qual quantidade, por meio de quais métodos, e a quem é
distribuído, ao qual me referi anteriormente. A combinação de controle de
preços com estas medidas ampliadas constituem a socialização “de fato” do
sistema econômico. Pois significa que o governo exerce todos os poderes
substantivos de propriedade.
Este foi o socialismo instituído pelos nazistas.
Mises o chama de modelo alemão ou nazista de socialismo, em contraste ao mais
óbvio socialismo dos soviéticos, ao qual ele chama de modelo russo ou
bolchevique de socialismo.
O socialismo, é claro, não acaba com o caos causado
pela destruição do sistema de preços. Ele apenas perpetua esse caos. E se
introduzido sem a existência prévia de controle de preços, seu efeito é
inaugurar este mesmo caos. Isto porque o socialismo não é um sistema econômico
verdadeiramente positivo. É meramente a negação do capitalismo e seu sistema de
preços. E como tal, a natureza essencial do socialismo é a mesma do caos
econômico resultante da destruição do sistema de preços por meio do controle de
preços e salários.
(Quero demonstrar que a imposição de cotas de
produção no estilo bolchevique de socialismo, com a presença de incentivos por
todos os lados para que estas sejam excedidas, é uma fórmula certa para a
escassez universal da mesma forma como ocorre quando se controla preços e
salários.)
No máximo, o socialismo meramente muda a direção do
caos. O controle do governo sobre a produção pode tornar possível uma maior
produção de alguns bens de especial importância para si mesmo, mas faz isso à
custa de uma devastação de todo o resto do sistema econômico. Isto porque o
governo não tem como saber dos efeitos no resto do sistema econômico da sua
garantia da produção dos bens aos quais atribui especial importância.
Os requisitos para a manutenção do sistema de controle
de preços e salários trazem à luz a natureza totalitária do socialismo — mais
obviamente, é claro, na variante alemã ou nazista de socialismo, mas também no
estilo soviético.
Podemos começar com o fato de que o auto-interesse
financeiro dos vendedores operando sob o controle de preços seja de contornar
tais controles e aumentar seus preços. Compradores, antes impossibilitados de
obter os bens, estão dispostos a — na verdade, ansiosos para — pagar estes
preços mais altos como meio de garantir os bens por eles desejados. Nestas
circunstâncias, o que pode impedir o aumento dos preços e o desenvolvimento de
um imenso mercado negro?
A resposta é a combinação de penas severas com uma
grande probabilidade de ser pego e, então, realmente punido. É provável que
meras multas não gerem a dissuasão necessária. Elas serão tidas como
simplesmente um custo adicional. Se o governo deseja realmente fazer valer o
controle de preços, é necessário que imponha penalidades comparadas àquelas dos
piores crimes.
Mas a mera existência de tais penas não é o
bastante. O governo deve tornar realmente perigosa a condução de transações no
mercado negro. Deve fazer com que as pessoas temam que agindo desta forma
possam, de alguma maneira, ser descobertas pela polícia, acabando na cadeia.
Para criar tal temor, o governo deve criar um exército de espiões e informantes
secretos. Por exemplo, o governo deve fazer com que o dono da loja e o seu
cliente tenham medo de que, caso venham a se engajar em uma transação no
mercado negro, algum outro cliente na loja vá lhe informar.
Devido à privacidade e sigilo em que muitas
transações no mercado negro ocorrem, o governo deve ainda fazer com que
qualquer participante de tais transações tenha medo de que a outra parte possa
ser um agente da polícia tentando apanhá-lo. O governo deve fazer com que as
pessoas temam até mesmo seus parceiros de longa data, amigos e parentes, pois
até eles podem ser informantes.
E, finalmente, para obter condenações, o governo
deve colocar a decisão sobre a inocência ou culpa em casos de transações no
mercado negro nas mãos de um tribunal administrativo ou seus agentes de polícia
presentes. Não pode contar com julgamentos por júris, devido à dificuldade de
se encontrar número suficiente de jurados dispostos a condenar a vários anos de
cadeia um homem cujo crime foi vender alguns quilos de carne ou um par de
sapatos acima do preço máximo fixado.
Em suma, a partir daí o requisito apenas para a
aplicação das regulamentações de controle de preços é a adoção de
características essenciais de um estado totalitário, nominalmente o
estabelecimento de uma categoria de “crimes econômicos”, em que a pacífica
busca pelo auto-interesse material é tratada como uma ofensa criminosa grave.
Para tanto é necessário o estabelecimento de um aparato policial totalitário,
repleto de espiões e informantes, com o poder de prisões arbitrárias.
Claramente, a imposição e a fiscalização do
controle de preços requerem um governo similar à Alemanha de Hitler ou à Rússia
de Stalin, no qual praticamente qualquer pessoa pode ser um espião da polícia e
no qual uma polícia secreta existe e tem o poder de prender pessoas. Se o
governo não está disposto a ir tão longe, então, nesta medida, o controle de
preços se prova inaplicável e simplesmente entra em colapso. Nesse caso, o
mercado negro assume maiores proporções.
(Observação: não estou sugerindo que o controle de
preços foi a causa do reino de terror instituído pelos nazistas. Estes
iniciaram seu reino de terror bem antes da decretação do controle de preços.
Como resultado, o controle de preços foi decretado em um ambiente feito para a
sua aplicação.)
As atividades do mercado negro exigem o cometimento
de outros crimes. Sob o socialismo “de fato”, a produção e a venda de bens no
mercado negro exige o desafio às regulamentações governamentais no que diz
respeito à produção e à distribuição, bem como o desafio ao controle de preços.
Por exemplo, o governo pretende que os bens que são vendidos no mercado negro
sejam distribuídos de acordo com seu planejamento, e não de acordo com o do
mercado negro. O governo pretende, igualmente, que os fatores de produção
usados para se produzir aqueles bens sejam utilizados de acordo com o seu
planejamento, e não com o propósito de suprir o mercado negro.
Sobre um sistema socialista “de direito”, como o
que existia na Rússia soviética, no qual o ordenamento jurídico do país aberta
e explicitamente tornava o governo o proprietário dos meios de produção, toda a
atividade do mercado negro, necessariamente, exige a apropriação indébita ou o
roubo da propriedade estatal. Por exemplo, considerava-se que os trabalhadores
e gerentes de fábricas na Rússia soviética que tiravam produtos destas para
vender no mercado negro estavam roubando matéria-prima fornecida pelo estado.
Além disso, em qualquer tipo de estado socialista —
nazista ou comunista —, o plano econômico do governo é parte da lei suprema do
país. Temos uma boa ideia de quão caótico é o chamado processo de planejamento
do socialismo. O distúrbio adicional causado pelo desvio, para o mercado negro,
de suprimentos de produção e outros bens é algo que o estado socialista toma
como um ato de sabotagem ao planejamento econômico nacional. E sabotagem é como
o ordenamento jurídico dos estados socialistas se refere a isto. Em
concordância com este fato, atividades de mercado negro são, com frequência,
punidas com pena de morte.
Um fato fundamental que explica o reino de terror
generalizado encontrado sob o socialismo é o incrível dilema em que o estado
socialista se coloca em relação à massa de seus cidadãos. Por um lado, o estado
assume total responsabilidade pelo bem-estar econômico individual. O estilo de
socialismo russo ou bolchevique declara abertamente esta responsabilidade —
esta é a fonte principal do seu apelo popular. Por outro lado, o estado
socialista desempenha essa função de maneira desastrosa, tornando a vida do
indivíduo um pesadelo.
Todos os dias de sua vida, o cidadão de um estado
socialista tem de perder tempo em infindáveis filas de espera. Para ele, os
problemas enfrentados pelos americanos com a escassez de gasolina nos anos 1970
são normais; só que ele não enfrenta este problema em relação à gasolina — pois
ele não tem um carro e nem a esperança de ter — mas sim em relação a itens de
vestuários, verduras, frutas, e até mesmo pão.
Pior ainda: ele é forçado a trabalhar em um emprego
que não foi por ele escolhido e que, por isso, deve odiar. (Já que sob
escassezes, o governo acaba por decidir a alocação de trabalho da mesma maneira
que faz com a alocação de fatores de produção materiais.) E ele vive em uma
situação de inacreditável superlotação, com quase nenhuma chance de
privacidade. Frente
à escassez habitacional, pessoas estranhas são designadas pelo governo a
morarem juntas; famílias são obrigadas a compartilhar apartamentos. Um sistema
de passaportes e vistos internos é adotado a fim de limitar a severidade da
escassez habitacional em áreas mais desejáveis do país. Expondo suavemente, uma
pessoa forçada a viver em tais condições deve ferver de ressentimento e
hostilidade.
Contra quem seria lógico que os cidadãos de um estado socialista
dirigissem seu ressentimento e hostilidade se não o próprio estado socialista?
Contra o mesmo estado socialista que proclamou sua responsabilidade pela vida
deles, prometeu uma vida de bênção, e que é responsável por proporcionar-lhes
uma vida de inferno. De fato, os dirigentes de um estado socialista vivem um
dilema no qual diariamente encorajam o povo a acreditar que o socialismo é um
sistema perfeito em que maus resultados só podem ser fruto do trabalho de
pessoas más. Se isso fosse verdade, quem poderiam ser estas pessoas más senão
os próprios líderes, que não apenas tornaram a vida um inferno, mas perverteram
a este ponto um sistema supostamente perfeito?
A isso se segue que os dirigentes de um estado
socialista devem temer seu povo. Pela lógica das suas ações e ensinamentos, o
fervilhante e borbulhante ressentimento do povo deveria jorrar e engoli-los
numa orgia de vingança sangrenta. Os dirigentes sentem isso, ainda que não
admitam abertamente; e, portanto, a sua maior preocupação é sempre manter
fechada a tampa da cidadania.
Consequentemente, é correto, mas bastante inadequado, dizer apenas que
“o socialismo carece de liberdade de imprensa e expressão.” Carece, é claro,
destas liberdades. Se o governo é dono de todos os jornais e gráficas, se ele
decide para quais propósitos a prensa e o papel devem ser disponibilizados,
então obviamente nada que o governo não desejar poderá ser impresso. Se a ele
pertencem todos os salões de Assembléias e encontros, nenhum pronunciamento
público ou palestra que o governo não queira não poderá ser feita. Mas o
socialismo vai muito além da mera falta de liberdade de imprensa e de
expressão.
Um governo socialista aniquila totalmente estas liberdades. Transforma a
imprensa e todo foro público em veículos de propaganda histérica em prol de si
mesmo, e pratica cruéis perseguições a todo aquele que ouse desviar-se uma
polegada da linha do partido oficial.
A razão para isto é o medo que o dirigente
socialista tem do povo. Para se proteger, eles devem ordenar que o ministério
da propaganda e a polícia secreta façam de tudo para reverter este medo. O
primeiro deve tentar desviar constantemente a atenção do povo quanto à
responsabilidade do socialismo, e dos dirigentes socialistas, em relação à
miséria do povo. O outro deve desestimular e silenciar qualquer pessoa que
possa, mesmo que remotamente, sugerir a responsabilidade do socialismo ou de
seus dirigentes em relação à miséria do povo — ou seja, deve desestimular qualquer
um que comece a mostrar sinais de estar pensando por si mesmo.
É por causa do terror dos dirigentes, e da sua necessidade desesperada
de encontrar bodes-expiatórios para as falhas do socialismo, que a imprensa de
um país socialista está sempre cheia de histórias sobre conspirações e
sabotagens estrangeiras, e sobre corrupção e mau gerenciamento da parte de
oficiais subordinados, e por que, periodicamente, é necessário desmascarar
conspirações domésticas e sacrificar oficiais superiores e facções inteiras do
partido em gigantescos expurgos.
E é por causa do seu terror, e da sua necessidade
desesperada de esmagar qualquer suspiro de oposição em potencial, que os
dirigentes do socialismo não ousam permitir nem mesmo atividades puramente
culturais que não estejam sob o controle do estado. Pois se o povo se reúne
para uma amostra de arte ou um sarau de literário que não seja controlado pelo
estado, os dirigentes devem temer a disseminação de ideias perigosas. Quaisquer
ideias não-autorizadas são ideias perigosas, pois podem levar o povo a pensar
por si mesmo e, a partir daí, começar a pensar sobre a natureza do socialismo e
de seus dirigentes. Estes devem temer a reunião espontânea de qualquer punhado
de pessoas em uma sala, e usar a polícia secreta e seu aparato de espiões,
informantes, e mesmo o terror para impedir tais encontros ou ter certeza de que seu
conteúdo é inteiramente inofensivo do ponto de vista do estado.
O socialismo não pode ser mantido por muito tempo, exceto por meio do
terror. Assim que o terror é relaxado, ressentimento e hostilidade logicamente
começam a jorrar contra seus dirigentes. O palco está montado, então, para uma
revolução ou uma guerra civil. De fato, na ausência de terror, ou, mais
corretamente, de um grau suficiente de terror, o socialismo seria caracterizado
por uma infindável série de revoluções e guerras civis, conforme cada novo
grupo dirigente se mostrasse tão incapaz de fazer o socialismo funcionar quanto
foram seus predecessores.
A inescapável conclusão a ser traçada é a de que o
terror experimentado nos países socialistas não foi simplesmente culpa de
homens maus, como Stalin, mas sim algo que brota da natureza do sistema
socialista. Stalin vem à frente porque sua incomum perspicácia e disposição ao
uso do terror foram as características específicas mais necessárias para um
líder socialista se manter no poder. Ele ascendeu ao topo por meio de um
processo de seleção natural socialista: a seleção do pior.
Por fim, é necessário antecipar um possível
mal-entendido em relação à minha tese de que o socialismo é totalitário por
natureza. Diz respeito aos países supostamente socialistas dirigidos por
social-democratas, como a Suécia e outros países escandinavos, que claramente
não são ditaduras totalitárias.
Neste caso, é necessário que se entenda que não
sendo estes países totalitários, não são também socialistas. Os partidos que os
governam podem até sustentar o socialismo como sua filosofia e seu fim último,
mas socialismo não é o que eles implementaram como seu sistema econômico. Na
verdade, o sistema econômico vigente em tais países é a economia de mercado
obstruída, como Mises definiu. Ainda que seja mais obstruído do que o nosso em
aspectos importantes, seu sistema econômico é essencialmente similar ao nosso,
no qual a força motora característica da produção e da atividade econômica não
é o governo, mas sim a iniciativa privada motivada pela perspectiva de lucro.
A razão pela qual social-democratas não estabelecem
o socialismo quando estão no poder, é que eles não estão dispostos a fazer o
que seria necessário. O estabelecimento do socialismo como um sistema econômico
requer um ato maciço de roubo — os meios de produção devem ser expropriados de
seus donos e tomados pelo estado. É virtualmente certo que tais expropriações
provoquem grande resistência por parte dos proprietários, resistência que só
pode ser vencida pelo uso de força bruta.
Os comunistas estavam e estão dispostos a usar esta
força, como evidenciado na União Soviética. Seu caráter é o dos ladrões armados
preparados para matar caso isso seja necessário para dar cabo dos seus planos.
O caráter dos social-democratas, em contraste, é mais próximo ao dos batedores
de carteira: eles podem até falar em coisas grandiosas, mas não estão dispostos
a praticar a matança que seria necessária; e desistem ao menor sinal de
resistência séria.
Já os nazistas, em geral não tiveram que matar para
expropriar a propriedade dos alemães, fora os judeus. Isto porque, como vimos,
eles estabeleceram o socialismo discretamente, por meio do controle de preços,
que serviu para manter a aparência de propriedade privada. Os proprietários
eram, então, privados da sua propriedade sem saber e, portanto, sem sentir a
necessidade de defendê-la pela força.
Creio ter demonstrado que o socialismo — o
socialismo de verdade — é totalitário pela sua própria natureza.
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